
A Clínica de Saúde Mental do Porto, um projecto iniciado, desenvolvido e impulsionado pelo Dr. Arantes Gonçalves, teve o seu início em 1989, coincidindo com a data da queda do muro de Berlim. Ora, a metáfora do muro de Berlim não podia encaixar melhor no conceito de Saúde Mental que temos vindo a implementar e desenvolver ao longo dos últimos 30 anos de trabalho conjunto em equipa.
No início desta caminhada, as perguntas de partida eram muitas e as respostas muito poucas. Estávamos certos de que havia um caminho a percorrer, embora não soubéssemos qual o itinerário a seguir. Tal como noutras situações da existência humana, tornou-se fundamental ter acesso à intuição, para num momento posterior, confiar nessa “bússola” e correr o risco de a colocar em prática ainda que sem qualquer base segura de retorno. Como é óbvio, o caminho não foi feito sozinho. Para tal, fomos contando com a aliança terapêutica de todos os doentes, os quais passaram a ser a parte mais importante da nossa intuição.
Aos poucos, fomos compreendendo que, para a maioria dos doentes, a moderna psicofarmacologia, apesar de muito eficaz no início dos tratamentos, acabava por ser insuficiente no tratamento a longo prazo. Também no caso das psicoterapias, foram evidentes as desvantagens da não combinação com a medicação psiquiátrica. Assim sendo, a complementaridade entre tratamentos biológicos e psicológicos na Clínica de Saúde Mental do Porto, fez história no nosso país, tal como histórica foi também a queda do muro de Berlim. Estas modalidades terapêuticas passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia no trabalho clínico com os doentes, sem qualquer hierarquia ou perda de identidade de ambas. É também assim que acontece com a Saúde Mental. Ou seja, o caminho é juntar e não dividir. A divisão leva ao empobrecimento, enquanto a combinação conduz ao enriquecimento.