É normal para a maioria das crianças experienciarem ansiedade e medo quando estão longe dos seus pais, quando vivenciam uma perda ou até mesmo quando estão sozinhos.
Esta ansiedade de separação pode funcionar como mecanismo de protecção, na medida em que, por exemplo, a criança sente angústia perante estranhos (Massa, 2002) ou protesta a separação da mãe (uma das características do apego), através de vocalizações e mudança de afecto (Eppel, 2005). Esta ansiedade e angústia desaparece progressivamente com o aumento da idade (Odriozola, 2001).
Porém, a ansiedade de separação pode tornar-se extremamente severa, desproporcional e/ou que vai além do que é esperado para o desenvolvimento evolutivo normal da criança, o que pode justificar o estabelecimento do diagnóstico de Perturbação de Ansiedade de Separação (Odriozola, 2001; Sanz, 2001; Rabian & Silverman, 2000).
A Perturbação de Ansiedade de Separação é uma das perturbações de ansiedade mais frequentes nas crianças e adolescentes, com prevalência em torno dos 4% (Castillo, Recondo, Asbahr & Manfro, 2000).
Esta perturbação, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (DSM-IV), caracteriza-se pela ansiedade excessiva relativamente à separação de casa ou daqueles a quem a criança está fortemente vinculada. Trata-se de uma ansiedade excessiva não adequada ao nível de desenvolvimento e que persiste, no mínimo, por quatro semanas, causando sofrimento intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas de vida da criança e adolescente (APA, 2002; Castillo, Recondo, Asbahr & Manfro, 2000).
Relacionados com esta ansiedade excessiva estão diferentes sintomas que podem cumprir critérios para o diagnóstico de Perturbação de Ansiedade de Separação (APA, 2002):
(1) Mal-estar excessivo e recorrente quando ocorre ou é antecipada a separação de casa ou de figuras de maior vinculação;
(2) Preocupação persistente e excessiva pela possível perda das principais figuras de vinculação ou por possíveis males que possam acontecer a essas pessoas;
(3) Preocupação persistente e excessiva pela possibilidade de que um acontecimento adverso possa levar à separação de uma figura importante de vinculação (por exemplo, perder-se ou ser raptado);
(4) Relutância persistente ou recusa em ir para a escola ou a outro local por medo da separação;
(5) Relutância ou medo persistente e excessivo, de estar sozinho ou sem as principais figuras de vinculação em casa, ou noutros locais, sem adultos significativos;
(6) Relutância ou recusa persistente em dormir sem estar próximo de uma figura importante de vinculação ou em adormecer fora de casa;
(7) Pesadelos repetidos que envolvem o tema de separação;
(8) Queixas repetidas de sintomas somáticos (como cefaleias, dores abdominais, náuseas ou vómitos), quando ocorre ou se antecipa a separação em relação a figuras importantes de vinculação.
Perturbação de Ansiedade de Separação/ Fobia Escolar
Esta perturbação pode estar associada e é frequentemente confundida ou rotulada como fobia escolar, quando se caracteriza pela recusa em ir ou permanecer na escola devido ao medo de separação das figuras de vínculo. No entanto, a fobia escolar pode ser uma perturbação independente, quando a recusa se deve ao medo de algum aspecto relacionado com a escola ou com o ambiente à volta da mesma (APA, 2002).
É verdade que as crianças com ansiedade de separação se recusam em ir à escola, pelas razões já referidas anteriormente, mas nem todas as crianças com fobia escolar têm dificuldades em separar-se dos pais em outras situações, como por exemplo ir para casa de familiares ou de amigos. Isto significa que estas duas perturbações de ansiedade estão estritamente relacionadas, mas nem sempre sobrepostas (Sanz, 2001).
Avaliação e Tratamento
A ansiedade de separação na infância é um factor de risco para o desenvolvimento de diversas perturbações de ansiedade, entre elas, a perturbação de pânico e também de perturbações de humor, na vida adulta (Castillo, Recondo, Asbahr & Manfro, 2000).
Por este motivo, a perturbação de ansiedade de separação deve ser tratada o mais precocemente possível, para aliviar o grande sofrimento que esta perturbação implica para a criança, mas também para prevenir o agravamento do quadro clínico e o desenvolvimento da doença mental na idade adulta.
A avaliação das perturbações de ansiedade, inclusive a Perturbação de Ansiedade de Separação, faz-se a partir das duas fontes fundamentais de informação: a própria criança e os pais (Sanz, 2001) mas também através da administração de instrumentos de avaliação psicológica.
A psicoterapia é o método indicado para tratar a perturbação de ansiedade de separação.
Através deste método, a criança é ajudada a compreender os seus medos, a elaborá-los e adquire maior capacidade para expressar e lidar com os sentimentos negativos, fortalecendo-se psicológica e emocionalmente.
Bibliografia
- American Psychiatric Association (2002). Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais (IV-Revisto) (4.a ed.). Lisboa: Climepsi Editores.
- Castillo, A. R., Recondo, R., Asbahr F. R & Manfro, G. G. (2000). Transtornos de ansiedade. Revista Brasileira Psiquiátrica, 22(Supl II), 20-23.
- Eppel, A. B. (2005). Uma visão psicobiológica da personalidade limítrofe. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul. 27(3), 262-268.
- Massa, J . P. (2002). La ansiedad de separación en la encrucijada evolutiva. Psiquiatria.com. 6(3).
- Odriozola, E. E (2001). Perturbações da Ansiedade ma Infância. Amadora: McGraw-Hill.
Rabian, B. & Silverman, W. K. (2000) Anxiety Disords. In M. Hersen, & R. T Ammerman, Advanced Abnormal Child Psychology, 2ª Edição, pp. 271-289, New Jersey: Lawrence Erbaum Associates, Publishers.
- Sanz, M. (2001). Características clínicas de los trastornos de ansiedad. Revista Pediatría de Atenção Primaria. 3 (10), 61-71.