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2020 abr

Estamos todos no Mar da Pandemia mas em barcos diferentes

A pandemia é para todos e nós somos todos.

Reflexões sobre o momento e circunstâncias presentes:

Passado mais de um mês do confronto com a realidade ameaçadora e letal do coronavírus constata-se que o sentimento e a emoção mais presente é o MEDO.

Para uns o Medo apresenta-se como normal em face das circunstâncias envolventes, que os leva a uma maior consciência da realidade e a adoptarem um comportamento adequado com o objectivo de reduzir os riscos de contaminação do próprio ou de outros e a cumprirem com as normas e orientações estabelecidas em termos práticos da sobrevivência.

Mas para outros, o Medo assume maiores proporções desencadeando estados de apreensão, frustração, angústia, ansiedade, gerando desconforto emocional ligeiro a par do estado de stress físico.

Nas pessoas com vulnerabilidade emocional ou que já sofrem de problemas emocionais, o Medo pode gerar ansiedade generalizada, pânico, obsessão, com base em receios reais ou sobretudo antecipados de perda, doença ou morte.

Mas há ainda outros em que se verifica que não demonstram medo e desafiam a realidade agindo com irresponsabilidade e colocando-se a si e aos outros em risco.

Mas a larga maioria das pessoas vivem um estado de resignação e adiamento das suas vidas face a esta realidade imposta. A inércia pode instalar-se, porque estão sem rumo, sem objectivos para o seu dia a dia.

Em grande parte as pessoas não estão mais perturbadas porque a pandemia até agora é tratada como algo externo a si próprios, acontecimento que não depende de si e portanto não afecta directamente a sua auto-estima e responsabilidade, não coloca em causa o próprio nem o responsabiliza.

A pandemia é para todos e nós somos todos.

Neste contexto tem-se gerado felizmente um clima emocional de respeito, contenção e o mais importante de entre-ajuda e apoio.

O facto da pandemia ter evoluído de modo gradual ajudou de um modo geral e até espontâneo, as pessoas tenham tido estratégias saudáveis para lidar com a ameaça (real ou a antecipada), revelando comportamentos compensatórios e ainda ajustados.

Até agora tudo parece estar a funcionar bem. Mas os recursos individuais ou colectivos, ou de uma sociedade, têm limites. O país também os tem.

É importante alertar para a prevenção de uma catástrofe mental e social, porque ultrapassados os limites vão começar a surgir as consequências irrecuperáveis ou irreversíveis para o indivíduo e que são factores de risco para a saúde mental do próprio e de uma sociedade.

No seu conjunto, as perdas afectivas e económicas reais e o isolamento, a doença, a morte, a inactividade, a falta de produtividade, os prejuízos económicos de famílias e empresas - se não houver atenção vão-se somando e vão ter um impacto traumático emocional e social grave.

Portanto, temos que ter consciência dos efeitos directos da pandemia na saúde física e mental das pessoas mas também nos efeitos indirectos com consequências na saúde mental que se podem seguir.

No presente é também fundamental refletir e pensar-se como regressar à vida antes que se esgotem os recursos (internos e externos) com consequências irrecuperáveis.

O regresso terá que ser feito mantendo a consciência plena do risco real, mas também com medidas de prevenção e apoio social económico reparadoras.

A palavra-chave para o momento actual é SOLIDARIEDADE na saúde, nas famílias, na sociedade em geral.

Resume-se como exemplo “eu não quero ficar doente e vou ter cuidados comigo mas não quero que os outros tenham a doença, vou ter cuidado também com os outros - cuidar de mim é também cuidar de nós”.

"ESTAMOS TODOS NO MAR DA PANDEMIA MAS EM BARCOS DIFERENTES"

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