O Pânico é um dos sintomas que mais motiva ou desencadeia a procura de ajuda médica. A pessoa com crises de pânico recorre de imediato, geralmente, a um serviço de urgência.
A pessoa é avaliada face aos sintomas somáticos que apresenta, como coração a bater depressa, falta de ar, desequilíbrios, sensação de desmaio, acompanhada ou não de sensação de morte iminente ou medo que algo muito grave possa suceder.
Em geral, a avaliação clínica não revela qualquer doença física e é explicado ao paciente que não tem nada, que se trata de ansiedade ou “dos nervos”.
O paciente fica mais tranquilo no imediato, mas continua com o problema e novas crises se seguem, repetindo-se o mesmo comportamento e resultados da avaliação.
Nesta altura, o paciente recorre a consultas médicas, faz exames clínicos (que estão normais) e fica de novo aliviado, podendo ou não ser medicado com ansiolíticos.
Face a novas crises, os exames são repetidos ou então inicia-se recurso a várias consultas médicas na expectativa de encontrar a solução ou a explicação orgânica para o que está a acontecer. Infelizmente, este trajecto nalguns casos pode demorar meses ou anos, até à obtenção do diagnóstico de Perturbação de Pânico ou outro e recorrer a consulta de especialidade de psiquiatria para avaliação e tratamento.
Afinal o que é o Pânico?
O Pânico é um ataque agudo de ansiedade, acompanhado de sentimento de morte iminente e perda total de controlo. Caracteriza-se por medo intenso e sintomas físicos associados.
O ataque de pânico é um período intenso, súbito, paroxístico, de grande medo ou mal-estar, acompanhado por sintomas somáticos ou cognitivos como, tremores, palpitações, suores, calor e frio, dificuldade em respirar, sensação de falta de ar, dor no peito, tonturas, medo de perder o controlo, medo de enlouquecer, medo de morrer.
O ataque de pânico aumenta rapidamente de intensidade e a pessoa sente-se em perigo ou medo intenso de que alguma coisa grave vai suceder.
Frequentemente a pessoa é acometida de ataque de pânico sem nenhum motivo aparente. Por vezes a pessoa entra em pânico ao enfrentar uma situação temida como falar em público, entrar num recinto fechado, conduzir numa auto-estrada ou entrar num elevador.
Na ocasião do ataque de pânico, a pessoa procura agir em conformidade, fugir, pedir socorro ou ir a um hospital.
Na maior parte dos casos, os ataques de pânico são a característica principal de uma Perturbação de Pânico. Nesta, a pessoa mantém a preocupação e medo das implicações e consequências pelo menos durante um mês e os ataques não estão associados a desencadeantes ou situação específica ou outras doenças. Na Perturbação de Pânico, em geral, os ataques são frequentes e inesperados.
Nesta perturbação, a vida da pessoa pode ficar muito afectada pela ameaça de novo ataque, pela ausência de exames que esclareçam o que se passa, pois todos são negativos, ficando a pessoa com medo de ter uma doença que ainda não foi diagnosticada e, deste modo, faz múltiplas consultas e repete exames.
É comum a pessoa viver centrada nos sintomas, no seu corpo e medo de doenças, podendo em casos extremos limitar totalmente as suas actividades diárias.
O diagnóstico precoce é muito importante para evitar as múltiplas consultas e múltiplos exames, que levam a iatrogenização e a complicações como fobias, hipocondria e depressão.
É comum a perturbação de pânico estar associada a agorafobia. Esta caracteriza-se pelo medo de estar em locais de onde sair ou fugir pode ser difícil ou onde a ajuda face a um ataque de pânico não esteja disponível. Alguns exemplos são restaurantes, autocarro, estar numa fila, auto-estrada, pontes, etc.
A pessoa também pode antecipar a necessidade de se sentir acompanhada ou próxima de ajuda.
Podem ocorrer ataques de pânico em situações específicas temidas pela pessoa – fobias. Por exemplo, a pessoa com medo fóbico de aranhas pode ter um ataque de pânico se colocada ou confrontada com aranhas.
Também podem acontecer ataques de pânico em doenças físicas, como feocromocitoma hipertiroidismo, hiperparatiroidismo, hipoglicemia, acesso epiléptico, doença pulmorar obstrutiva, asma, disfunções vestibulares e patologias cardíacas.
Substâncias estimulantes ou outras drogas que afectam o sistema nervoso central podem precipitar ataques de pânico aquando o consumo ou na abstinência.
Embora possam existir factores de ordem biológica presentes, na perturbação de pânico os factores de ordem psicológica interna ou externa são os determinantes.
O tratamento do pânico deve ser sempre instituído o mais cedo possível após o diagnóstico de que o doente sofre de perturbação de pânico.
A orientação a seguir deve resultar da avaliação do caso e discutida com o paciente.
Em geral, há a necessidade de recorrer a uso de medicação para interrupção do condicionamento do medo e a confirmação de que não há perigo real. No entanto, sabemos que por si só não é suficiente e há necessidade de intervenção psicoterapêutica, que poderá ser cognitivo-comportamental, ensino de técnicas de relaxamento, alcançando deste modo o paciente em geral o auto-controlo da situação.
O tratamento deve ser realizado pelo menos durante um ano.
Nalguns casos são detectados factores psicodinâmicos internos que são determinantes do quadro clínico ou da resistência e cronicidade da ansiedade e, deste modo, haverá que recorrer a psicoterapia de orientação psicanalítica.
A maioria das situações evolui para a remissão, no entanto, noutros casos, existe a persistência de sintomas residuais e a necessidade de manter tratamento.